«Todos somos necesarios e necesarias»: relações entre poesia e movimentos sociais através da coletânea Sempre mar. Cultura contra a burla negra

Resumen

O artigo pretende estudar o livro coletivo Sempre mar. Cultura contra a burla negra, publicado em 2003 como parte do movimento de protesto contra o naufrágio do petroleiro Prestige frente às costas galegas e contra a gestão política desse acontecimento. Após o enquadramento da publicação no contexto mais alargado das relações entre poesia e movimentos sociais no âmbito do movimento cidadão Nunca Mais, são apresentados o quadro teórico e metodológico, bem como o estado da questão relativamente à bibliografia prévia existente sobre a poesia ligada a este acontecimento histórico. A segunda parte do artigo analisa os textos poéticos da coletânea, a partir de diferentes perspetivas: condições gerais do produto, pessoas participantes, repertórios temáticos e caraterísticas pragmáticas e enunciativas. Como conclusões principais, o artigo estabelece que esta publicação está estreitamente ligada ao movimento social como agência de participação política, frente a outras publicações da mesma época em que a agência do escritor, como intelectual ou notável, tinha um protagonismo mais destacado. Além disso, os repertórios temáticos predominantes estão muito ligados ao acontecimento imediato, embora a variabilidade repertorial seja bastante ampla. Globalmente, predomina o modelo convencional da poesia social ou comprometida, quase sempre monológica na sua apresentação pragmático-enunciativa, embora modelos alternativos, de tipo não lírico ou dialógico, encontrem também algum espaço.